quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Evolução: Por que os seus olhos são voltados para a frente?

Um passeio por um zoológico mostra que a maioria dos animais podem ser classificados em dois grupos. Há aqueles com olhos nos lados de suas cabeças – galinhas, vacas, cavalos, zebras – e há aqueles com os olhos mais próximos, na parte dianteira de suas caras, como macacos, tigres, corujas e lobos. Todos os seres humanos que visitam o zoológico estão obviamente no último grupo. Mas o que há por trás dessa divisão?
Há uma troca de benefícios quando se trata da posição dos olhos. À medida que os olhos avançam ao longo do rosto, dois campos de visão se sobrepõem. É essa sobreposição – a perspectiva ligeiramente diferente na cena na frente de você que cada um de seus dois olhos envia para o seu cérebro – que nos permite perceber a profundidade. Animais com olhos para os lados podem não ter essa percepção de profundidade bem desenvolvida, mas eles são capazes de ver um panorama extremamente largo em vez disso.
A colocação dos olhos provavelmente evoluiu por diferentes razões em diferentes grupos de animais. Algumas tartarugas, por exemplo, têm olhos no lado da cabeça, mas processam a informação ótica como se seus olhos estivessem voltados para a frente – provavelmente porque quando retraem suas cabeças nas suas carapaças seus olhos só recebem luz da frente, como se seus olhos estivessem para a frente.
Os olhos laterais ajudam muitos animais a escapar de predadores, já que permitem que eles olhem para dois lados ao mesmo tempo. Na hora de caçar uma presa, esta particularidade é uma grande vantagem, já que permite que o animal mantenha um olho na vítima e outro nos arredores, se certificando de que não há nenhum predador por perto. Alguns animais, inclusive, movem seus olhos de maneira separada, ampliando muito seu campo de visão.
Em 1922, Edward Treacher Collins, um oftalmologista britânico, escreveu que os primatas primitivos precisavam de uma visão que “lhes permitisse balançar e saltar com precisão de galho em galho para agarrar a comida com as mãos e transportá-la para a boca”. Como nossos antepassados ​​primatas se mudaram para as árvores para escapar de seus predadores, a necessidade de transitar nos galhos das árvores e de pegar presas com as mãos, argumentou ele, significava que a evolução favoreceu um sistema visual com boa percepção de profundidade.
A ideia de Collins tornou-se conhecida como a “hipótese de locomoção arbórea”. Nas décadas que se seguiram, ela foi ampliada e refinada, mas a ideia básica de que nossos antepassados ​​evoluíram seus olhos para avaliar com precisão as distâncias enquanto pulavam de uma árvore para outra, permaneceram centrais durante bastante tempo. Afinal, as apostas por não conseguir calcular a verdadeira distância entre as árvores eram altas. “O preço do fracasso era cair muitos metros em um terreno habitado por animais carnívoros”, escreveu o psicoterapeuta visual Christopher Tyler em 1991.
O problema com a hipótese de Collins é que muitos animais que prosperam em árvores têm olhos nos lados de suas cabeças – esquilos, por exemplo. Assim, em 2005, o antropólogo biológico Matt Cartmill propôs uma ideia diferente: a “hipótese de predação visual”. Predadores são melhor servidos, ostensivamente, por ter uma percepção de profundidade extremamente boa. Isso os ajuda a localizar melhor e a derrubar suas presas mais eficazmente, como um leopardo perseguindo uma gazela ou um dos nossos antepassados ​​primatas agarrando um inseto do ramo de uma árvore. Cartmill achou que sua explicação era a mais elegante, porque também explicava outras mudanças evolutivas que são distintas dos primatas. Os primeiros primatas, por exemplo, caçam pela visão mais do que pelo cheiro. Cartmill pensou que a redução na sua capacidade de cheirar era um efeito colateral da convergência dos olhos, simplesmente porque o espaço disponível para o nariz e suas conexões com o cérebro tornaram-se menores, uma vez que foi comprimido pelos olhos.
O neurobiólogo John Allman retomou a hipótese de Cartmill e expandiu-a para se concentrar na predação noturna. Nem todos os predadores, afinal, têm olhos voltados para a frente. Os gatos, os primatas e as corujas têm, mas alguns musaranhos e tordos não, por exemplo. A contribuição de Allman foi sugerir que os olhos voltados para a frente se mostraram benéficos para as criaturas que caçam à noite, como corujas e gatos, porque podem receber mais luz do que os olhos voltados para os lados. Acontece que os primatas primitivos também eram caçadores noturnos, e sua adaptação para a predação noturna pode ter concedido olhos virados para a frente a todos os seus descendentes, incluindo nossa própria espécie.
O neurobiólogo teórico Mark Changizi ainda tem outra ideia. Em 2008, no Journal of Theoretical Biology, ele ofereceu a “hipótese de visão de raio-X”. Em resumo, os olhos voltados para a frente permitiram que nossos antepassados ​​vissem através das folhas e dos galhos densos em seu habitat da floresta. O nome cativante para sua hipótese vem de um fenômeno curioso. “Quando você levanta o dedo verticalmente e fixa seus olhos em algo muito além dele”, ele escreve, “você percebe duas cópias de seu dedo, e ambas as cópias de seu dedo aparecem transparentes.” Assim, você tem a capacidade de “ver através” do seu dedo, como se estivesse vendo com visão de raios-X.
O problema é exclusivo de animais de grande porte nas florestas, como os primatas. Animais menores, como esquilos, sofrem menos porque suas cabeças são pequenas o suficiente para ver entre ramos e folhas. E animais grandes em ambientes não-florestais se saem muito bem com os olhos para os lados.
A razão para nós termos olhos na frente de nossas cabeças não está de forma alguma resolvida. Cada hipótese tem suas próprias forças e fraquezas. Mas se nossos olhos evoluíram para dar conta de pular através de ramos, perseguir insetos saborosos ou para ver através de folhas, pelo menos uma coisa é certa: tudo se resume à vida nas árvores.


Fonte: http://www.bbc.com/

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