domingo, 23 de junho de 2024

Os cientistas finalmente descobriram como as baratas conquistaram o mundo

Se você já se levantou para fazer um lanche à meia-noite e, ao acender a luz da cozinha, se deparou com um “exército” de insetos marrons brilhantes que se aglomeraram perto da geladeira, então você já conhece a barata alemã. Apesar do nome, as baratas alemãs agora habitam todos os continentes, exceto a Antártida. De fato, os cientistas consideram essa espécie, a Blattella germanica, a mais prevalente das 4.600 espécies de baratas da Terra. O que é surpreendente, já que os animais eram basicamente desconhecidos na Europa até que o biólogo sueco Carl Linnaeus os descreveu pela primeira vez em 1767.  Fora o fato de que eles não têm parentes próximos no continente – e em nenhuma espécie que existe na natureza. Então, como o “hóspede doméstico” mais rejeitado de todos se tornou uma praga de infâmia global? De acordo com um novo estudo, a resposta está escrita no DNA da barata alemã. Ao analisar os marcadores de todo o genoma de 281 baratas de 17 países em seis continentes e medir o grau de parentesco entre esses animais, os cientistas rastrearam pela primeira vez a rápida ascensão e disseminação da barata alemã.

Onde se originou a barata alemã

Todos os indícios apontam para a evolução da espécie a partir da barata asiática (Blattella asahinai) há cerca de 2.100 anos onde hoje é a Índia e Mianmar. Como a espécie aparentemente abandonou a vida selvagem para viver à sombra dos seres humanos, as baratas alemãs parecem ter chegado ao Oriente Médio há cerca de 1.200 anos, provavelmente devido ao aumento do comércio e dos movimentos militares nos califados islâmicos Omíada ou Abássida, impérios que se estendiam do norte da África ao oeste da Ásia. As baratas alemãs experimentaram outro salto geográfico quando, há cerca de 390 anos, as atividades coloniais entraram em ação e as baratas chegaram à Europa e, mais tarde, ao restante do mundo - graças às melhorias no transporte, ao alcance do comércio europeu e ao advento do aquecimento doméstico, que permite que os insetos sobrevivam ao frio. Para deixar claro, todos esses movimentos e migrações teriam sido involuntariamente auxiliados por pessoas. "A barata alemã não consegue nem voar", afirma Qian Tang, biólogo evolucionista da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo publicado em 20 de maio na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. "Elas pegam carona em embarcações humanas em todo o mundo." Mas não foi apenas a sorte que permitiu que as baratas tivessem sucesso. Em vez disso, foi a capacidade inigualável da espécie de se adaptar e evoluir – algo que os cientistas ainda estão tentando entender hoje, na esperança de que um dia possamos aprender como impedir a marcha da barata alemã pelo planeta.

A barata no espelho

Para se ter uma ideia do quanto as baratas alemãs mudaram nos últimos dois milênios, basta colocá-las lado a lado com seu parente vivo mais próximo, a barata asiática. Embora as duas espécies ainda sejam praticamente idênticas, elas não poderiam ser mais diferentes em termos de comportamento. “As baratas asiáticas voam em direção às fontes de luz, enquanto as baratas alemãs se afastam correndo”, explica Chow-Yang Lee, entomologista urbano da Universidade da Califórnia, em Riverside. Da mesma forma, se você jogar as duas espécies no ar, as baratas asiáticas alçam voo, enquanto as baratas alemãs correm para o chão, diz ele. "Há muito tempo suspeitamos que a barata asiática é, na verdade, o ancestral da barata alemã, mas esse artigo praticamente confirma isso", diz Lee, que não foi associado ao novo estudo. "É extremamente empolgante". O estudo também revelou que a genética da barata alemã reflete as relações humanas. Por exemplo, as baratas alemãs em Cingapura e na Austrália são, na verdade, mais próximas de seus primos nos Estados Unidos do que outras populações de baratas alemãs na vizinha Indonésia. Isso provavelmente se deve ao fato de os norte-americanos terem historicamente mais comércio com Cingapura e Austrália do que com a Indonésia. "É um belo exemplo da ligação entre atividades humanas, comércio, guerras, colonização e a disseminação de uma praga domiciliar bem adaptada", disse o coautor do estudo Coby Schal, entomologista urbano e especialista em baratas da Universidade Estadual da Carolina do Norte (Estados Unidos), por e-mail.

É preciso respeitar essas baratas

As baratas alemãs superam as outras baratas em todos os lugares que frequentam, comentam Tang. Um dos motivos do sucesso da espécie é a taxa de reprodução mais rápida do que a maioria das outras espécies de baratas, diz ele, o que permite que os animais desenvolvam rapidamente resistência a pesticidas. Um trabalho anterior do laboratório de Schal revelou que, depois de anos atraindo baratas para comer veneno embebido em glicose, a população que sobreviveu às iscas açucaradas produziu uma nova raça de baratas que rejeitaram completamente os doces.  "É simplesmente impensável", afirma Lee. "A glicose é um combustível metabólico muito importante para todos os organismos." Lee diz que às vezes ele e seus colegas trabalham em um novo composto antibaratas que ainda não foi liberado para uso comercial, mas quando o testam em baratas em um laboratório, os animais já estão resistentes. E isso, combinado com as maravilhas do transporte moderno, faz com que ele tenha pouquíssima esperança de que os seres humanos encontrem uma maneira de combater as infestações de baratas em breve. "Se você me pedir para citar uma espécie ou organismo que eu mais respeito, provavelmente será a barata alemã", finaliza Lee.

Fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/

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