A descoberta de organismos multicelulares a mais de um quilometro de profundidade da superfície da Terra, numa mina de ouro, na África do Sul, surpreendeu os cientistas, que até agora acreditavam que apenas bactérias unicelulares eram capazes de sobreviver nessas condições. O achado entusiasmou os investigadores, que agora levantam novas possibilidades sobre a existência de vida no subsolo em outros planetas e luas. Um estudo publicado na “Nature” indica que foram encontradas minhocas inteiras em duas minas e que o DNA de outra foi detectado noutra. Estes organismos, conhecidos como “minhocas do inferno” ou nematóides, estavam em águas com temperaturas até 48 graus infiltradas que fluem dos poços, nas rochas das minas.
Os vermes que se encontravam mais perto da superfície foram levados para laboratório para um estudo mais profundo. Um deles corresponde a uma nova espécie que foi designada por Halicephalobus mephisto, enquanto o outro já era conhecido por aquatilis Plectus.Na opinião dos investigadores, estas criaturas são seres com uma complexidade multicelular bastante surpreendente, uma vez que têm sistema nervoso, digestivo e reprodutor. "Isso está a dizer-nos algo novo", afirmou Tullis Onstott, microbiologista da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, acrescentando que, "para uma criatura relativamente complexa, como um nematóide, penetrar tão profundamente é simplesmente incrível”.
Aquatilis Plectus
Gaeten Borgonie, da Universidade de Ghent, na Bélgica, e membro da equipe de investigadores, salientou que apesar de já serem conhecidos estes seres vivos no fundo do oceano nunca tinham sido encontrados a mais de dez ou 20 metros abaixo da superfície da Terra.Até hoje, apenas organismos unicelulares, como bactérias e fungos, tinham sido encontrados a quilômetros abaixo da crosta da Terra. Os cientistas acreditam que tal se deve à falta de oxigênio nessas regiões, que impede que outros seres vivos lá vivam.Este tipo de locais só se torna acessível aos investigadores graças às perfurações necessárias para a extração de minérios. Neste caso, a equipe internacional de cientistas recorreu às minas de ouro Beatrix e Driefontein, na África do Sul, onde colocou filtros em que passavam milhares de litros de água. Habitualmente, este tipo de amostras contém apenas bactérias, pelo que a descoberta dos vermes foi uma surpresa. “Tremi quando os vi mexer”, revelou Tullis Onstott.
Tullis Onstott
De acordo com o investigador, estes organismos sobrevivem a níveis muito baixos de oxigênio, menos de um por cento dos encontrados na maioria do oceano. A água em que foram encontrados tem entre três mil e dez mil anos. Para já, os cientistas supõem que os animais vieram originalmente da superfície, e que foram levados para baixo da Terra nas fissuras na crosta pela água da chuva há milhares de anos. Segundo Gaeten Borgonie, os animais descobertos parecem os pequenos lagartos das frutas ou da superfície do solo, pelo que, provavelmente, descendem desses organismos. Os da superfície são capazes de suportar grandes picos de temperatura e podem sobreviver ao congelamento e descongelamento e à desidratação e reidratação. Desta forma, Borgonie afirmou que os vermes já têm alguns dos “atributos necessários" para sobreviver a essas grandes profundidades.
Fonte: http://www.cienciahoje.pt
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