quinta-feira, 23 de junho de 2011

Você sabe o que se passa no centro do nosso planeta?

Como é o nosso planeta por dentro? Será que o coração é cristalino ou granuloso? Oculta um mega-reator nuclear? Vejamos o que sabe a ciência sobre as entranhas da Terra.
O centro da Terra é um lugar estranho, onde a pressão é 3,5 milhões de vezes maior do que na superfície. Geofísicos de diversas instituições do mundo esforçam-se, atualmente, por compreender essa geografia impossível que abriga, entre outras coisas, os segredos da evolução dos continentes e o singular comportamento dos pólos magnéticos. Não deixa de ser paradoxal que saibamos mais sobre o universo, com um raio de 13.500 milhões de anos-luz, do que sobre o núcleo da própria Terra, pouco mais de 6000 quilômetros abaixo dos nossos pés. Talvez por isso, alguns cientistas desenvolvem fascinantes experiências de laboratório e outros planejam missões extravagantes para explorar as suas entranhas.
Em 1970, uma equipe de geólogos russos começou a perfurar a superfície da península de Kola (situada na região de Murmansk, no Noroeste da Rússia), na esperança de conhecer mais de perto as enigmáticas tripas da Terra. Embora o objetivo inicial fosse alcançar os 15 mil metros de profundidade, viram-se obrigados, após 22 anos de labor, a desistir da tarefa: a elevada pressão interna tinha aquecido a rocha subterrânea até aos 180 ºC, transformando-a numa espécie de plasticina pegajosa, impossível de esburacar. Passado quase uma década, os cientistas dispõem de um túnel com 12.262 metros de profundidade e cerca de 20 centímetros de largura; apesar de ser o buraco mais fundo que alguma vez se escavou, não atinge sequer 1% da distância que nos separa do núcleo. O resto permanece tão fora do nosso alcance como há três séculos, quando o astrônomo inglês Edmond Halley (1656–1742) sugeriu que o centro planetário era oco e estava cheio de formas de vida. Atualmente, a sua teoria parece-nos ridícula, mas a verdade é que não se sabe nada com toda a certeza.
Um estudo recente da Universidade de Calgary (Canadá) revelou que o núcleo é uma mistura de ferro, níquel derretido e outros elementos mais leves, como enxofre, carbono, oxigênio e silício. Por sua vez, o núcleo interno, é uma bola sólida um pouco menor do que a Lua, com um raio de 1220 quilômetros e uma temperatura que oscila entre os 5000 e os 6000 ºC. Em contrapartida, a camada que a envolve (o núcleo externo) é líquida, menos quente e tem 2270 quilômetros de espessura. Além disso, é quase totalmente composta por uma liga de ferro fundido.
Em 2003, David J. Stevenson, num artigo publicado na revista Nature:sugeriu enviar uma sonda do tamanho de uma toranja, embutida numa massa de ferro fundido de cerca de cem milhões de quilos, para criar uma fenda com mais de 3000 quilômetros de profundidade. Desse modo, o dispositivo (dotado de um impulso inicial que lhe permitiria perfurar as camadas externas) chegaria ao núcleo do planeta e enviaria informação sobre as matérias e camadas que fosse encontrando pelo caminho.
No entanto, o cientista estima que a energia necessária para criar essa fenda seria equivalente a um sismo de magnitude 7 na escala de Richter. Em alternativa, poder-se-ia aproveitar as fendas que já existem. “O desafio tecnológico é menos complexo do que o do Projeto Manhattan”, disse Stevenson, referindo-se ao desenvolvimento da primeira bomba nuclear norte-americana. A iniciativa custaria milhares de milhões de dólares. “Uma das mensagens mais persistentes da exploração planetária é que ficamos surpreendidos de cada vez que vamos a algum lado”, insiste o autor. E não restam dúvidas de que o núcleo terrestre está, seguramente, repleto de surpresas.



Fonte: http://www.superinteressante.pt

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