terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tecnologia elimina riscos para artesãos de pedra-sabão

Os artesãos Amilton Jorge e José Eustáquio aprendem
a operar a máquina enclausurada de fio diamantado própria para o
corte de blocos de pedra-sabão
[Imagem: Vitor Hugo Marques - Ascom/Cetem]


O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), no Rio de Janeiro, vai instalar os primeiros equipamentos adaptados por pesquisadores da instituição para reduzir os riscos à saúde humana e ao meio ambiente causados pela poeira do artesanato feito a partir de pedra-sabão.
Os equipamentos serão instalados em uma unidade-piloto que a prefeitura de Ouro Preto (MG) construirá na região de Mata dos Palmitos, situada a 40 quilômetros do município. Ali, a população vive da produção artesanal de peças de pedra-sabão.

Escola de produção limpa

A coordenadora do projeto, a pesquisadora Zuleika Castilhos, afirmou que a prefeitura investiu R$ 50 mil na aquisição do terreno onde será construída a unidade-piloto. O projeto também conta com investimentos de R$ 80 mil do fundo canadense International Development Research Centre.
Ela explicou que, ao contrário do processo a seco atualmente adotado pelos artesãos, que se caracteriza pelo elevado volume de poeira, a nova tecnologia é úmida e se destaca pelo reuso da água. "Seria como uma escola de uma produção limpa", observou.
Artesanato de pedra-sabão
A proposta é que os artesãos mantenham sua produção, que é uma manifestação artística da região, mas por meio de um processo limpo, que não agrida a própria saúde, nem o meio ambiente. "Porque essa poeira vai parar nos rios, também assoreia as margens, também ocupa o solo. Mas, com certeza, esses equipamentos novos vão melhorar muito a produção", explicou.
Com a evolução do projeto, é possível que a unidade-piloto seja transformada em uma unidade produtiva, uma central de produção que aglutinaria todos os artesãos de Mata dos Palmitos, tirando a produção artesanal das residências.

Danos da poeira

A base do projeto foi uma pesquisa do Cetem, desenvolvida na região de Mata dos Palmitos, onde os pesquisadores tiveram a atenção despertada para os impactos ambientais e ocupacionais causados pela poeira da atividade com pedra-sabão. As casas dos artesãos, inclusive, são rodeadas por um halo branco provocado pela poeira, salientou Castilho.
Em 2005 e 2006, o Cetem submeteu o projeto para o fundo canadense com o objetivo de desenvolver tecnologias limpas. Em associação com a SAMA Minerações Associados, foram desenvolvidos os equipamentos adaptados à pedra-sabão.
Na região de Mata dos Palmitos, moram cerca de 200 pessoas, das quais 60% são adultos que vivem da produção de artesanato de pedra-sabão.
Estudo realizado em 2003 pela professora Olívia Bezerra, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) com a comunidade do município, constatou que 31% da população local apresentava deficiências respiratórias.

Processo úmido

O processo de produção "passou a ser completamente úmido, abatendo 100% da poeira", enfatizou a pesquisadora. No momento, o Cetem está elaborando manuais técnicos de utilização das máquinas, além de materiais para que pessoas de nível médio de instrução possam orientar os artesãos que não têm estudo. A unidade-piloto deve entrar em funcionamento até março de 2009.
Segundo Zuleika, com esse estudo, o que se percebeu é que "as pessoas estão expostas a uma quantidade imensa de poeira. E há possibilidade dessa poeira estar contaminada por anfibólios, que são um tipo de amianto, material ligado à ação cancerígena. E isso é extremamente preocupante".
A pesquisadora acrescentou que as condições de trabalho observadas na região são muito precárias. "As pessoas se queixam de coceiras e de problemas respiratórios, como falta de ar, e dizem que a poeira incomoda". O projeto também conta com o apoio do Departamento de Gestão de Conflitos Relacionados à Mineração (Gescom) do Ministério do Meio Ambiente.
Fonte:Site inovação tecnológica

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