quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Pachydactylus rangei , a lagartixa que brilha no escuro

 

Uma lagartixa do deserto da Namíbia tem marcas que brilham no escuro em verde neon com a luz da Lua. O mecanismo que produz seu brilho nunca foi visto antes em animais terrestres com espinha dorsal.

As lagartixas-aranha (Pachydactylus rangei) têm pele translúcida com grandes manchas amareladas: listras nas laterais e anéis ao redor dos olhos. Mas essas marcações brilham fortemente quando absorvem a luz azul da Lua.

Fluorescência

A fluorescência – quando a luz é absorvida e então emitida em um comprimento de onda maior – foi encontrada em outros répteis e anfíbios, produzida por seus ossos ou por secreções químicas em sua pele. No entanto, as lagartixas-aranha geram sua luz usando células de pigmento da pele repletas de cristais de guanina.

Essas células, chamadas iridóforos, já foram associadas à exibição de cores em lagartixas e lagartos, mas esta é a primeira evidência de que também permitem que as lagartixas brilhem no escuro.

Lagartixas-aranha, que vivem em leitos de rios secos e dunas no deserto da Namíbia, medem cerca de 10 a 15 centímetros de comprimento, de acordo com a Animal Diversity Web (ADW), um banco de dados de vida selvagem mantido pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan (EUA).

As lagartixas usam seus grandes pés espalmados para cavar na areia fina e são mais ativas à noite, segundo a ADW.

Em 2018, os autores do estudo descobriram que os camaleões têm ossos que brilham através da pele. Essa descoberta levou os cientistas a procurar por brilhos desconhecidos em outros répteis e anfíbios, disse o coautor do estudo Mark Scherz, pesquisador de pós-doutorado do Grupo de Genômica Adaptativa da Universidade de Potsdam, na Alemanha.

David Prötzel, autor principal deste estudo e candidato a doutorado da Coleção Estadual de Zoologia da Baviera (ZSM) em Munique, manteve as lagartixas P. rangei em casa e teve “uma incrível surpresa” quando as iluminou com uma luz ultravioleta, descobrindo que elas brilhavam em verde neon, disse Scherz ao Live Science por e-mail.

Os pesquisadores então testaram 55 espécimes de P. rangei da ZSM sob a luz ultravioleta, encontrando evidências de fluorescência em adultos de ambos os sexos e em jovens.

Anfíbios fluorescentes

Em outros anfíbios fluorescentes, como a rã Boana punctata, o brilho vem de uma substância química que circula por seu sistema linfático.

E répteis como os camaleões e sapos do gênero Brachycephalus exibem ossos fluorescentes nas regiões do corpo onde sua pele é muito fina.

“Na verdade, algumas outras espécies, incluindo lagartixas, têm pele suficientemente transparente para que a fluorescência de seus ossos possa ser vista sob uma luz ultravioleta suficientemente forte”, disse Scherz.

Mas nas lagartixas-aranha, o brilho verde neon veio dos iridóforos. Embora os iridóforos não tenham sido associados à fluorescência em lagartixas, eles são conhecidos por apresentar fluorescência em algumas espécies de peixes de recifes, de acordo com o estudo.

A lagartixa-aranha é a primeira lagartixa conhecida a possuir dois tipos de iridóforos: um que apresenta fluorescência e outro que não.

O brilho que essas células produzem é mais brilhante do que o brilho que emana dos ossos dos camaleões e está entre os exemplos mais brilhantes de fluorescência em animais terrestres, relataram os autores do estudo.

Essas marcas luminosas ao longo da parte inferior do corpo e ao redor do olho seriam altamente visíveis para outras lagartixas, “mas seriam ocultadas de predadores com pontos de observação mais elevados, como corujas ou chacais”, disse Scherz.

Embora os cientistas não saibam como a maioria dos animais usa sua fluorescência, a localização e o brilho dessas marcações, bem como sua visibilidade no ambiente árido do deserto onde vive os animais, onde não há muita vegetação, sugere que a fluorescência desempenha um papel na interação social das lagartixas, de acordo com o estudo.

“Observamos em cativeiro que, embora esses animais sejam em grande parte solitários, eles correm um para o outro para se cumprimentar após um curto período de separação”, disse Scherz. “Eles também lambem a condensação dos corpos uns dos outros. Portanto, há muitos motivos pelos quais poder se ver a longas distâncias seria útil para essas lagartixas”, disse ele.

https://www.livescience.com/

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Capturado por acidente tubarão pré-histórico


Chlamydoselachus anguineus

O tubarão tinha características que não se assemelhavam a nada que eles tivessem visto antes: uma cabeça redonda e uma longa fileira de 300 dentes afiados e finos, típicos de um perigoso predador. 

Eles logo perceberam que estavam de frente a um Chlamydoselachus anguineus ou, como vulgarmente o denominam, um tubarão-enguia, uma espécie pré-histórica pouco conhecida. O animal foi capturado em agosto passado nas águas próximas ao Algarve, a área mais ao sul de Portugal.

Tubarão-enguia

Embora seja considerado um ‘fóssil vivo’, o tubarão-enguia é uma espécie geograficamente distribuída: de Angola ao Chile, da Guiana à Nova Zelândia, da Espanha ao Japão. No entanto, pouco se sabe sobre seus hábitos de vida, bem como o tamanho de sua população. Isso é em parte devido ao fato de ele geralmente viver a grandes profundidades, o que torna difícil de vê-lo e segui-lo. No caso do tubarão capturado em Portugal, ele foi apanhado em uma rede lançada a 700 metros de profundidade. Mas o que o torna tão especial?

Família extinta

“Esse tubarão pertence a única espécie sobrevivente de uma família de tubarões em que todas as outras se extinguiram”, explicou a Margarida Castro, professora e pesquisadora do Centro de Ciências Marinhas da Universidade de Algarve.

“Alguns estimam que essa espécie remonta ao período jurássico tardio. Pode ser um pouco mais recente, mas, em qualquer caso, estamos falando de dezenas de milhões de anos. Por isso, é bastante antigo em termos evolutivos. Certamente está na terra bem antes do homem”, acrescenta a especialista.

Castro faz parte do projeto MINOUW, uma iniciativa para reduzir o número de capturas indesejadas por parte dos navios de pesca europeus. Daí, então, havia a presença de pesquisadores em um navio de pesca comercial.

Um grande predador

Embora a maioria dos tubarões tenha uma cabeça plana e o tubarão-enguia tenha uma cabeça redonda, suas barbatanas e toda a parte inferior do seu corpo não deixam dúvidas aos especialistas de que é um tubarão e não uma espécie de enguia. No entanto, de acordo com Castro, o que é realmente único sobre esse animal é os dentes.

Ele tem uma grande fileira de dentes perpendiculares ao maxilar, são muitos afiados, finos e apontam para dentro, o que lhes permite capturar grandes presas e mantê-las na boca, porque qualquer resistência por parte das presas só fará com que elas avancem para dentro da boca do animal, pois os dentes os impedem de sair”, diz Castro. “Dessa forma, eles são capazes de pegar algo e não deixar escapar. Claramente é um predador muito agressivo”, acrescentou. No caso do espécime capturado em Portugal, era um macho adulto de 1,5 metros de comprimento e quando foi tirado do mar já estava morto.

“A partir dessa profundidade, a maioria dos peixes chega morto, a rede sobe muito rápido e eles não podem sobreviver à súbita mudança de pressão”, explica Castro. A pouca informação que temos sobre essa espécie dificulta saber se ela corre risco de extinção.

A União Internacional para a Conversação da Natureza (IUCN, por suas siglas em inglês) coloca o tubarão-enguia como uma espécie “quase ameaçada”, porque a expansão da pesca em águas profundas pode conduzir a um aumento em sua captura acidental.

Fonte: https://universoracionalista.org/