Uma lagartixa do deserto
da Namíbia tem marcas que brilham no escuro em verde neon com a luz da Lua. O
mecanismo que produz seu brilho nunca foi visto antes em animais terrestres com
espinha dorsal.
As
lagartixas-aranha (Pachydactylus rangei) têm pele translúcida com
grandes manchas amareladas: listras nas laterais e anéis ao redor dos olhos.
Mas essas marcações brilham fortemente quando absorvem a luz azul da Lua.
Fluorescência
A fluorescência – quando a
luz é absorvida e então emitida em um comprimento de onda maior – foi
encontrada em outros répteis e anfíbios, produzida por seus ossos ou por
secreções químicas em sua pele. No entanto, as lagartixas-aranha geram sua luz
usando células de pigmento da pele repletas de cristais de guanina.
Essas células,
chamadas iridóforos, já foram associadas à exibição de cores em lagartixas e
lagartos, mas esta é a primeira evidência de que também permitem que as
lagartixas brilhem no escuro.
Lagartixas-aranha,
que vivem em leitos de rios secos e dunas no deserto da Namíbia, medem cerca de
10 a 15 centímetros de comprimento, de acordo com a Animal Diversity Web (ADW),
um banco de dados de vida selvagem mantido pelo Museu de Zoologia da
Universidade de Michigan (EUA).
As lagartixas
usam seus grandes pés espalmados para cavar na areia fina e são mais ativas à
noite, segundo a ADW.
Em 2018, os
autores do estudo descobriram que os camaleões têm ossos que brilham através
da pele. Essa descoberta levou os cientistas a procurar por brilhos
desconhecidos em outros répteis e anfíbios, disse o coautor do estudo Mark
Scherz, pesquisador de pós-doutorado do Grupo de Genômica Adaptativa da
Universidade de Potsdam, na Alemanha.
David Prötzel,
autor principal deste estudo e candidato a doutorado da Coleção Estadual de
Zoologia da Baviera (ZSM) em Munique, manteve as lagartixas P.
rangei em casa e teve “uma incrível surpresa” quando as
iluminou com uma luz ultravioleta, descobrindo que elas brilhavam em verde
neon, disse Scherz ao Live Science por e-mail.
Os
pesquisadores então testaram 55 espécimes de P. rangei da ZSM sob a
luz ultravioleta, encontrando evidências de fluorescência em adultos de ambos
os sexos e em jovens.
Anfíbios fluorescentes
Em outros anfíbios
fluorescentes, como a rã Boana punctata, o brilho vem
de uma substância química que circula por seu sistema linfático.
E répteis como os
camaleões e sapos do gênero Brachycephalus exibem
ossos fluorescentes nas regiões do corpo onde sua pele é muito fina.
“Na verdade,
algumas outras espécies, incluindo lagartixas, têm pele suficientemente
transparente para que a fluorescência de seus ossos possa ser vista sob uma luz
ultravioleta suficientemente forte”, disse Scherz.
Mas nas
lagartixas-aranha, o brilho verde neon veio dos iridóforos. Embora os
iridóforos não tenham sido associados à fluorescência em lagartixas, eles são
conhecidos por apresentar fluorescência em algumas espécies de peixes de
recifes, de acordo com o estudo.
A
lagartixa-aranha é a primeira lagartixa conhecida a possuir dois tipos de
iridóforos: um que apresenta fluorescência e outro que não.
O brilho que
essas células produzem é mais brilhante do que o brilho que emana dos ossos dos
camaleões e está entre os exemplos mais brilhantes de fluorescência em animais
terrestres, relataram os autores do estudo.
Essas marcas
luminosas ao longo da parte inferior do corpo e ao redor do olho seriam
altamente visíveis para outras lagartixas, “mas seriam ocultadas de predadores
com pontos de observação mais elevados, como corujas ou chacais”, disse Scherz.
Embora os
cientistas não saibam como a maioria dos animais usa sua fluorescência, a
localização e o brilho dessas marcações, bem como sua visibilidade no ambiente
árido do deserto onde vive os animais, onde não há muita vegetação, sugere que
a fluorescência desempenha um papel na interação social das lagartixas, de
acordo com o estudo.
“Observamos em
cativeiro que, embora esses animais sejam em grande parte solitários, eles
correm um para o outro para se cumprimentar após um curto período de
separação”, disse Scherz. “Eles também lambem a condensação dos corpos uns dos
outros. Portanto, há muitos motivos pelos quais poder se ver a longas
distâncias seria útil para essas lagartixas”, disse ele.